25 de agosto de 2009

O DESAFIO CONTINUA

Já no século XV, Herastus afirmava que “a obra da igreja transpõe a interpretação que fazemos da necessidade do mundo perdido. Vemos com os olhos de homens. Apenas conhecendo Deus mais de perto vamos entender em que obra devemos nos empenhar” (W.Brown).

Certamente devemos vivenciar essa dependência incondicional pregada por Herastus. Entretanto compreendemos hoje que, apesar de a Grande Comissão permanecer imutável, certamente o mundo não se encontra estático. Sendo assim, é preciso discernir as épocas e acompanhar a dinâmica extensão da missão da igreja. Então, observando a expressão do evangelho em nossa geração, temos boas e más notícias.

É certo que não podemos questionar o avanço da igreja evangélica. Entre 1999 e 2001, ela obteve um índice de 6,3% em termos de crescimento mundial. Esse foi o maior índice de expansão entre as principais religiões mundiais, incluindo o islã, que obteve em 2001 o índice de 3,7% em relação ao ano anterior. Também não podemos minimizar o avanço das missões que se puseram a encontrar, estudar e catalogar os grupos ainda não alcançados pelo evangelho, informando-nos sobre quem e quantos são, onde estão e quais as principais barreiras que nos impedem de chegar ate eles.

A etnografia mundial ganhou novo mapa. Segundo Charles Kruman, há mais de 4.500 estações de TV e rádio cristãs em todo o mundo, alcançando 289 megalínguas (línguas faladas por mais de um milhão de pessoas). Dentre as 6.528 línguas vivas do mundo, possuímos a Bíblia completa em 366, o Novo Testamento completo em 928 e porções bíblicas em 918, ou seja, a Palavra está expressivamente presente em 2.212 línguas (United Bible Society). O filme Jesus alcançou 500 línguas em julho de 2000 e foi visto por mais de 2 bilhões de pessoas. Patrick Johnstone fala-nos da Palavra gravada em cerca de 1.000 línguas minoritárias. Hoje, dos 13.000 povos não-alcançados, inicialmente listados por Ralph Winter, constatamos que pouco mais de 2.000 não contam com uma presença missionária. Jamais a vox clamantis da igreja foi ouvida tão longe. Certamente vivemos em um momento de expansão do evangelho sem precedentes na historia cristã.

Entretanto existimos em um mundo volátil, onde percebemos uma nova cadeia de barreiras se levantando. Precisamos estudá-las e entendê-las. É necessário observar que igrejas locais são nitidamente incapazes de evangelizar a própria gente em mais de 4.000 etnias no mundo, somando cerca de um bilhão de pessoas. Entre estas, o corpo de Cristo não se mostra forte o suficiente para alcançar seu próprio povo! E possível que terminemos esta década sem nenhum povo na listagem de não-alcançados em toda a Terra. No entanto corremos o risco de mesmo assim ainda termos milhares de etnias em que o evangelho, depois de ter sido comunicado a eles há muitos anos, permanecer desconhecido pela maioria. Creio ser também alarmante vermos que o número de pessoas nascidas em países não-cristãos é de 48 milhões por ano, de acordo com a Global Report Magazine, e aumenta meio por cento a cada ano.

De acordo com o Ethnologue, mais de 4.000 línguas, que são faladas por apenas 6% da população mundial, não possuem sequer uma porção da Palavra traduzida. A cultura cristã em todo o mundo, bombardeada por apelos megademográficos de anos atrás, vem relutando em investir os recursos humanos necessários em direção aos grupos minoritários, especialmente os que têm menos de 300 pessoas.

Devemos observar também que o mundo de hoje possui mais de 1 bilhão de pessoas que não sabem ler nem escrever. Não poderiam ler a Palavra mesmo que a tivessem na própria língua. Percebe-se também que os últimos 2.000 povos não-alcançados da Terra são justamente os que ofereceram, ao longo dos séculos, o maior índice de resistência ao evangelho; seja lingüística, cultural ou geopolítica. Isto é, provavelmente são os 2.000 grupos mais resistentes em toda a historia do cristianismo. No universo indígena, contamos hoje com o mesmo número de missionários que tínhamos dez anos atrás (Departamento de Assuntos Indígenas). E há ainda mais de 100 grupos étnicos sem nenhuma presença missionária, apesar de 40% estarem relativamente abertos ao evangelho.

Temos, portanto, à nossa frente um mundo em rápida mutação, e com grandes necessidades. É preciso compreendê-lo e acompanhar seus novos desafios sem abandonar as palavras que o Carpinteiro proferiu 2.000 anos atrás. Por isso David Hesselgrave ressalta que "nem todo novo pensamento é dirigido pelo Espírito. Nem tudo o que é novo é necessariamente bom. A Bíblia é antiga, o Evangelho é antigo e a Grande Comissão é antiga".

Missionário Ronaldo Lidório (Missões, o Desafio Continua, Ed. Betânia).

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