25 de dezembro de 2010

HISTÓRIA CHINESA DE NATAL

Numa pequena cidade do interior da China um evangelista relembra a história do menino Jesus em Belém para explicar o poder do verdadeiro Deus.

Um certo evangelista itinerante estava viajando pela ocasião do Natal de 1991 na província acidentada de Gansu. Ele caminhava a pé de povoado em povoado. Havia neve e um vento frio soprava, mas o coração dele estava quente. Era sua primeira viagem como evangelista e ele fizera vários convertidos nos cinco primeiros povoados que acabara de visitar. Mas, ao aproximar-se da sexta cidade deparou-se com um drama que parecia uma reprise do que aconteceu em Belém.

“Enquanto ia chegando na cidade, senti que algo estava errado. As pessoas estavam agrupadas, falando em voz baixa, com olhares acusadores umas para as outras. Então eu me apresentei: Olá, sou um portador de Boas Novas...”. Um homem baixinho me interrompeu: “Olhe, só temos más notícias aqui no momento”. Ele explicou, sem esconder sua irritação: “O bebê de um casal desta aldeia acaba de ser roubado”.

Nas regiões mais pobres da China, é comum o rapto de crianças para os casais ricos das grandes cidades. Pedi para falar com o casal, mas pessoas não permitiram e me mandaram embora. “Volte para sua terra, não queremos você aqui. Pare de nos aborrecer”. Lágrimas subiram aos meus olhos. Raramente alguém me falara nesse tom. Deveria “sacudir o pó das sandálias” e prosseguir? Ou ficaria mais um pouco com eles?

“Por favor, me leve até ao casal”, supliquei. “Quem sabe posso ajudar”. Com relutância, talvez porque eu fosse estrangeiro, fui levado à casa do sofrido casal. Entrei na cidade e encontrei ambos a me fitarem em silêncio. Os vizinhos se amontoavam na porta. Houve silêncio. A tristeza do casal pesava no ar. “Sinto muito pelo que aconteceu a vocês, mas conheço alguém que pode ajudar... Deus. Deixem que eu faça uma oração”.

O jovem marido exclamou indignado: “Cale a boca e vá embora. Oramos aos nossos deuses e nada aconteceu. Por que o seu iria ser diferente?” Neste momento fui agarrado por trás pelos aldeões e expulso da vila. “Não se atreva voltar aqui de novo!”, gritaram enquanto eu me retirava. Que fracasso. Fiquei andando pelas colinas humilhado, em lágrimas e clamando a Deus. Eu perguntava: “Senhor, terei orado em vão?”

Foi então que comecei a pensar no Natal. O Filho de Deus viera ao mundo sabendo que ia ser desprezado, espancado, perseguido pela incompreensão dos homens e finalmente crucificado. Todavia, mesmo assim Ele veio. E eu fui para outro povoado esperando ser bem acolhido, recebido com entusiasmo por pessoas que vivem uma existência monótona e isolada. Em vez disso, recebi o mesmo tratamento dado a Cristo.

Ajoelho ali na neve, compreendi o que devia fazer. Tinha de voltar àquela vila, sabendo com certeza que seria desprezado. Isso era seguir os passos do Mestre. Ele mostrara coragem, eu também deveria mostrá-la. Com o coração aos pulos tomei a direção oposta e comecei a andar vagarosamente de volta para a cidade.

De repente, através do silêncio do cair da tarde, ouvi o choro de um bebê. Virei em outra direção e ouvi novamente o choro, vindo de um buraco que na verdade era um velho poço. Cheguei até ele e olhei. Cerca de dois metros abaixo estava uma criancinha envolta num cobertor grosso, deitada no fundo do poço seco.

“Senhor, eu te louvo”, gritei para dentro do poço. A criança tinha a pele azulada pelo frio e então desci para aquecê-la um pouco. Aquela deveria ser a criança que sumira da cidadezinha naquela mesma manhã. Abri o cobertor. Ah, ali estava a explicação. Era uma menina. Os raptores não sabiam que era uma menina e descobrindo isso depois, a esconderam no poço para que morresse. Os casais das grandes cidades que financiam esse comércio hediondo, só querem meninos.

Voltei para o povoado com o fardo precioso da vida apertado em meus braços. Todos vieram correndo. Ficaram surpresos e cheios de alegria. Mãos amigas me levaram à casa do pobre casal e o sorriso no rosto da mãe quando coloquei o bebê em seu rosto era de pura gratidão.

“Venha, se aqueça perto do fogo”, disse o marido. Eles puxaram uma cadeira para mim e enquanto os outros aldeões se juntavam ao redor, ele perguntou: “Quem é esse Deus para o qual você orou?”

Que convite! Ali estava eu, um hóspede honrado, olhando para trinta pessoas ansiosas para ouvir o Evangelho. “Bem”, comecei eu, “Ele veio à terra na forma de uma criancinha, mais ou menos nesta época, há dois mil anos...”

O casal creu em Jesus naquela noite, mas eu também aprendi uma grande lição. Eu só ouvi o choro do bebê porque tinha decidido voltar à vila. Se não tivesse tido a coragem de levar o Evangelho, sem pensar nas conseqüências, não teria encontrado o bebê, e jamais compartilharia o Evangelho. Eu tive de aceitar primeiro o preço de levar as Boas Novas, sabendo que seria desprezado, mas sem me importar com isso.

Ganhei naquele Natal grande conhecimento da coragem mostrada pelo Senhor Jesus ao vir para um povoado tão pouco acolhedor como o nosso mundo. Ele veio voluntariamente! E esta é minha oração: “Que Deus me conceda mais dessa coragem que tornou possível o Natal!”

(Portas Abertas, 1992)

16 de dezembro de 2010

MISSIONÁRIOS: IGREJAS NÃO CHEGAM A UM QUARTO DO MUNDO

Por Michelle A. V. Repórter do Christian Post
Traduzido por Amanda Gigliotti

Mais de 25 por cento das etnias (povos não) no mundo, ou cerca de dois bilhões de pessoas, não foram representados na Conferência Lausanne.

Um grupo de povos não alcançados significa que a missão transcultural é necessária para uma pessoa do grupo ouvir o Evangelho, porque eles não conseguem encontrar pessoas dentro de seu grupo étnico para compartilhar com eles a boa notícia.

Os chefes de missão, na quarta-feira, disseram que o obstáculo mais difícil a superar para alcançar os povos não alcançados é a obediência da Igreja. Eles falaram na sessão de multiplex Lausanne.”

Um vídeo apresentado no início da sessão, destacou que apesar do fato de que 86 por cento de Muçulmanos, Hindus e Budistas, não conhecem pessoalmente um seguidor de Cristo, 90 por cento dos missionários vão para regiões "cristianizadas," de acordo com o World Christian Database.

"Em meus 14 anos trabalhando com os Muçulmanos, mobilizando as Igrejas na Coréia, eu vim a perceber que os Muçulmanos não têm faltado com pessoas para Deus, mas para o povo de Deus," disse Henry Lee, líder da missão em Seul, Coréia do Sul, e parte do Ethne to Ethne (grego pessoas para as pessoas), uma rede missão global focada em obter o evangelho a grupos de pessoas não alcançadas.

Kent Park, presidente da Missão norte-americana para Povos Não Alcançados, explicou por que as Igrejas não compartilham o Evangelho com grupos de pessoas que precisam ouví-lo.

"A Igreja da Indonésia, por sua própria confissão, disse que nós os temos ignorados (grupos de pessoas não alcançados na Indonésia), porque não queríamos pagar o preço, ficamos com medo, nós não pensamos que iria funcionar, nós não pensamos que iria dar certo. É isso que significa ser alcançado."

Arychiluhm Beyene, que já trabalhou no campo de missão nos últimos 15 anos, incluindo seis anos com as pessoas mais difíceis na Somália, contou uma história comovente de um homem "assustador" somali que se converteu ao Cristianismo do Islã.

Depois que o homem somali se converteu, ele contou Beyene, "Quando você olha para nós de fora com a longa barba, com a boina, e jalabiya (roupas tradicionais soltas usadas por alguns homens da Somália), somos assustadores. Mas eu só quero te dar garantia, não pare de contar as boas notícias. Apesar de parecer assustador a partir do exterior, nosso interior está procurando a verdade."

Durante a sessão de pessoas desaparecidas, um líder da missão Africana também falou sobre a desconexão entre o que ele vê entre o que é ensinado aos Cristãos Africanos e como eles vivem suas vidas.

Embora a África atualmente tenha a maior taxa de crescimento Cristão no mundo, também tem os maiores níveis de HIV, conflitos, pobreza e corrupção, disse Peter Tantal, o diretor regional da África do Sul de Ethne to Ethne.

Em 1900, havia 8 milhões de Cristãos na África. Hoje, há 500 milhões de Cristãos na África e em alguns países 90 por cento ou mais da população é cristã.

"O desafio diante de nós é como uma Igreja, apesar de ter crescido tanto, precisamos ensinar às pessoas o que significa viver como povo de Deus," disse Tantal.

O Terceiro Congresso Lausanne sobre Evangelização Mundial, também conhecido como Cabo Town 2010, atraiu mais de 4.000 líderes cristãos representando mais de 190 países para a conferência Cape Town, África do Sul. A conferência foi fundada pelo evangelista americano Billy Graham em 1974, em Lausanne, na Suíça, para trazer junto ao corpo de Cristo global para a evangelização mundial.

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Painel de representantes regionais de Ethne para Ethne, uma rede de missão focada em grupos de pessoas não alcançadas, na sessão de multiplex: The Unserved 'One-Fourth World,' na Conferência Lausanne III, na quarta-feira, 20 de outubro de 2010, em Cidade do Cabo, África do Sul.

http://portuguese.christianpost.com/

11 de dezembro de 2010

SEM BOMBOM NEM GUARANÁ

No campo missionário, a saudade da pátria mãe às vezes se revela pela perda de coisas simples a que estamos acostumados em nosso dia-a-dia na nossa terra. As crianças parece que são as que mais sentem essa mudança radical. Acostumadas a certos hábitos, elas esperam ansiosas pela oportunidade de virem ao Brasil para poder desfrutar de coisas simples, como por exemplo, beber refrigerante de guaraná e comer chocolate.

Que o diga a família do Pr. Gerson e Sônia Tomaz e seus três filhos. Missionários na Romênia, eles guardam no armário da cozinha uma lata de guaraná e uma caixa (vazias) de bombons do Brasil. Chocolate até existe na Europa, mas guaraná é exclusivo do nosso país. Quando vêm de férias eles saciam o desejo de tomar da bebida e levam algumas latinhas desse que é o mais famoso (e para alguns, o mais gostoso) refrigerante brasileiro.

O exemplo da família Tomaz mostra que os missionários, além de sentirem-se privados da companhia dos familiares, do convívio com a igreja que os enviou e do contato com o seu povo, também sentem carência de coisas simples que nem imaginamos que poderiam ter importância para eles.

A lata de refrigerante e a caixa de bombons estão ali para lembrar à família que os laços com o seu país não foram desfeitos. Mas também revelam a falta de pequenas delícias que ficaram para traz e que às vezes mexem com as emoções dos obreiros.

Quando orar pelo seu missionário lembre-se de pedir a Deus que supra as suas mínimas necessidades, mesmo aquelas que nem imaginamos que eles possam ter. Quem sabe seja uma simples vontade de tomar um guaraná, ou de comer um doce ou uma fruta tipicamente brasileiros.

Os missionários sentem a ausência dessas coisas também.

3 de dezembro de 2010

A PAIXÃO MISSIONÁRIA

E a paixão missionária onde foi parar?

Meu chamado missionário deu-se na adolescência. Em nossa igreja sempre havia missionários que por lá passavam e contavam-nos suas experiências adquiridas nas mais diversas partes do mundo.

Foi ali, no convívio da igreja, que ouvi falar do mundo islâmico, budista, hindu e comunista. No seio da igreja sonhei com os campos missionários e com a possibilidade de glorificar a Deus com minha vida. Nesta ocasião era praticamente impossível ler Mateus 28:19-20 sem as lágrimas virem aos olhos.

O tempo passou, o adolescente cresceu e o sonho tornou-se realidade. Tive o imenso privilégio de servir ao Senhor no mundo hindu por vários anos e nos últimos sete anos num contexto pós-cristão da Europa. Minha paixão pela missão continua a mesma, apenas mais amadurecida, já com alguns fios de cabelos brancos, e ainda hoje é impossível ouvir alguém falar de missões entre outros povos sem que as lágrimas me venham aos olhos.

Nestes quase quinze anos fora do Brasil e envolvido com a obra missionária, foram raras as oportunidades de voltar à “pátria amada”. No entanto, a cada retorno foi possível notar um esfriamento cada vez maior da paixão missionária. Lembro-me da ocasião em que as pessoas nos procuravam desejosas de saber sobre os povos do mundo e das necessidades missionárias. Já na minha última viagem ao Brasil a pergunta mais comum era: “Europa, interessante, lá é bom mesmo para se ganhar dinheiro?” Aliás, acredito que as necessidades missionárias da Europa sejam as mais desconhecidas da igreja brasileira. Quantos brasileiros sabem das milhares de cidades da Europa sem uma única igreja cristã? Só no pequeno Portugal são quase cinqüenta cidades sem igrejas.

O sentimento que tenho é que a igreja brasileira assumiu a sua responsabilidade, mas perdeu a paixão. Da última vez que lá estive raras eram as pessoas interessadas em falar sobre missões. Faz-se missões, mas não mais refletimos sobre o assunto. O resultado é um distanciamento daquilo que hoje acontece no mundo missionário, suas novas tendências, os novos alvos e, acima de tudo, nada se fala dos mais de doze mil povos não alcançados e muitos ficam espantados ao ouvir que ainda hoje missionários e cristãos são mortos ou lançados em prisões por causa do Evangelho, para estes, estas coisas de perseguição não passam de alguns relatos do Novo Testamento.

Hoje o missionário é um problema que a igreja brasileira tenta administrar dentro das suas prioridades locais. O assunto administra-se da maneira mais conveniente possível, conveniente para a igreja local, não para o missionário. Nós, brasileiros, gostamos da glória da missão, não do custo da missão. Gostamos de dizer que o “Brasil é o Celeiro do Mundo”, mas nos esquecemos de dizer que os missionários brasileiros estão entre os que menos recursos recebem de suas igrejas, e que raríssimos são os casos dos que possuem algum plano de aposentadoria.

Lembro-me da ocasião em que nos reunimos na Noruega. Éramos um grupo de cinqüenta brasileiros envolvidos com missões, sentíamo-nos o grupo mais especial do mundo, até que ouvimos o reitor da faculdade missionária da Noruega que, com detalhes e aquela humildade típica dos noruegueses, falou-nos como fazer missões de verdade, e contou-nos sobre a missão desenvolvida por missionários noruegueses em Madagascar ao longo dos anos, onde estão sepultados ao menos mil e quinhentos missionários noruegueses, mortos pelos mais variados motivos. A igreja brasileira ainda está muito longe da realidade do custo da missão.

Outra coisa importante a aprender com os nórdicos sobre como fazer missões está no tratamento que recebe o missionário norueguês. Em sua maioria possuem os mesmos direitos sociais e financeiros dos pastores locais. Isto significa que, após uma determinada idade, os missionários poderão contar com uma pensão vitalícia que garantirá o sustento na velhice e a garantia de provisão para a família. No caso brasileiro, a menos que o missionário faça contribuições por conta própria para a previdência social ou privada, chegará à velhice em uma situação constrangedora. Mas como a igreja brasileira ainda é muito nova no seu envolvimento missionário, pouco se pensa sobre este assunto. Não posso deixar de elogiar algumas juntas missionária e igrejas que agem diferente nesta questão e investem no futuro de seus obreiros.

Como podemos ver, a questão da missão é muito mais séria que enviar cinqüenta reais ou mil reais por mês para um missionário no campo. É uma questão de consciência missionária, de real envolvimento com todos os aspectos da vida do missionário, afinal, “digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10:7). Lembro-me da irmã Hanna, uma missionária aposentada, membro da nossa igreja na Noruega que, depois de mais de quarenta anos de serviço missionário na África, gozava de sua velhice a tocar piano em casa e nos lares de idosos que ela visitava semanalmente, como uma forma de manter-se ativa. Um dia numa conversa com ela fiquei surpreendido ao ouvir desta irmã que todos os seus mantenedores que a apoiaram quando ela saiu para missões na África, os que ainda viviam, continuavam a lhe enviar ofertas mensais, mantendo um lindo relacionamento entre mantenedor e missionário por mais de cinqüenta anos. Será que no Brasil algum dia ouviremos histórias assim de nossos missionários? No meu caso, um anos após ter saído para Índia, dos que se comprometeram comigo, 60% acabaram por desistir.

É tempo de repensar nosso envolvimento missionário, restaurar a paixão perdida, buscar aprender com outros povos como fazer missões de forma efetiva e duradora. O orgulho missionário brasileiro de nada serve, só nos atrapalha. Não somos o celeiro do mundo missionário, países menores e mais pobres que o Brasil, como a Argentina, por exemplo, enviam e sustentam mais missionários que nós. A Coréia do Sul possui mais de doze mil missionários em mais de cento e cinqüenta países do mundo, e o número tende a crescer. O cuidado da igreja coreana com seus missionários é muito superior ao cuidado recebido pelos missionários brasileiros. É preciso humildade, paixão, seriedade, e desejo de fazer missões de forma correta.

Sei que meu clamor pouco impressionará alguns, irritará a outros, mas é apenas um clamor escrito no sofá de casa, com minhas filhas aos pés, cada uma nascida em um país diferente, são também filhas da missão, mas espero que possa despertar a paixão e o pensamento de outros. Quanto a mim, continuarei na missão, venha o que vier, continuarei a sonhar e trabalhar pela conversão do mundo, continuarei a chorar quando ouvir Mateus 28:19-20 e ao ler histórias missionária como a de Adoniram Judson que li mais uma vez hoje pela manhã. Até que todos tenham ouvido.

Fonte: O Cuidado Integral de Missionários - Um forum para reflexão e encorajamento http://cuidadointegral.info/

Via: www.sepal.org.br