20 de julho de 2023

Aqui tem luz, Luz da Palavra de Deus

O barulho do motor gerador chega aos nossos ouvidos como um aviso “o culto já vai começar”. Assim é que sabemos que está na hora do culto começar. Eu e Lau vamos para o templo coberto de palha e cercado de ripas pintadas de verde. Toco o violão, mas o culto hoje é totalmente dirigido pelos indígenas. Começamos acantar “ko Jexua ma’ini kijẽ”, que traduzido significa “Assim falou Jesus”. O cântico fala da viagem para o céu, um tema bíblico importante no Evangelho de João “eu sou o caminho... ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6).

O culto prossegue com outros cânticos, tanto na língua indígena como em Português. Então chegou a hora da pregação. O indígena abre a porção bíblica contendo Lucas e Atos que havíamos traduzido e publicado em 2018, e começa a ler Lucas 22.3-6. De forma simples e direta vai expondo verso a verso. Sua fala é suave, não há gritos. Intercala o olhar entre o auditório e o livro. Ao final, aplica o texto à igreja. “Que não sejamos como Judas” diz ao auditório. “Que possamos estar ao lado de Jesus sempre”. Eu e Lau, sentados, ouvíamos aquelas palavras como quem sonha. Lembrei de quando chegamos a este povo, 15 anos atrás. Praticamente não havia falantes de Português, ninguém conhecia o Evangelho e nenhum missionário evangélico havia conseguido permissão para entrar nessa aldeia.

Nosso alvo era que a evangelização e a tradução seguissem juntas. Decidimos começar traduzindo histórias bíblicas cronológicas, que dessem um panorama da história da salvação. Uma vez que as  primeiras conversões sugiram, as reuniões passaram a ser regulares, então começamos a traduzir o Novo Testamento. Formamos uma equipe de tradução composta por membros do povo e de missionários para conduzir os trabalhos. Os indígenas então fariam o primeiro rascunho na sua língua. Depois disso, a equipe toda iria fazer uma revisão e preparação para que testes de compreensão fossem feitos na comunidade.

Por fim, submeteríamos o texto a um consultor de tradução para aprovação final. E assim foi feito. Hoje estamos com 85% de todo o NT traduzido. A igreja cresceu e se fortaleceu com a leitura e estudo da tradução. Pretendemos terminar todo o Novo Testamento e publicá-lo em 2025, se o Senhor permitir.

O trabalho prossegue. Lembrei novamente do culto em que o rapaz pregava. Aos poucos fomos saindo do templo. Ao seguir a trilha escura de volta para nossa casa, olhei para trás e contemplei o pequeno templo de palha. Na penumbra da noite, sua luz contrastava com a escuridão ao redor, como a anunciar: aqui tem luz, luz da Palavra de Deus. E assim, como na profecia de Isaías, o povo que vivia em trevas viu a Luz!

Rev. Norval Silva, missionário da APMT entre povos indígenas no norte do Brasil. 

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