19 de junho de 2009

Desafios de um Mundo Globalizado e Pós-moderno

Quando penso nos missionários que, no passado, tiveram de enfrentar as mais adversas condições materiais, físicas e psicológicas para fazer missões e estender o reino de Deus na terra, eu me considero um privilegiado. Privilegiado de viver no presente século, de ter a oportunidade de usar tantos recursos disponíveis para a evangelização, de poder viver onde vivo e contar com a liberdade de compartilhar, aprender e desenvolver os talentos que Deus me deu.

Viver neste mundo globalizado e pós-moderno deveria nos levar a uma reflexão que se convertesse em ação. Temos de encarar os desafios como uma oportunidade para o desenvolvimento da obra missionária, não como uma ameaça. Devemos usar as ferramentas adequadas para o bem e não ter medo ou vergonha de viver e proclamar os princípios bíblicos.

Missões e Igreja andam juntas. Elas possuem o Espírito Santo e as Escrituras. Jesus lhes prometeu que daria o respaldo e todos os recursos espirituais necessários para o desenvolvimento dos dons e talentos daqueles que são chamados e vocacionados.

Não tenho dúvidas de que Deus levantará homens que obedecerão ao “Ide” de Jesus, levando as boas novas a todos os povos nesta época tão antagônica: De um lado, tantos recursos disponíveis; do outro, pessoas ainda vivendo primitivamente, morrendo de fome, e o pior de tudo, perecendo sem Deus e sem o conhecimento de Jesus.

Creio que a participação de cada membro do corpo de Cristo é de suma importância para a evangelização e o discipulado, que dependem de todo o conjunto de talentos e dons da igreja de Jesus. Ninguém pode estar alheio a este momento crucial da história.

Para cumprir o “Ide” de Jesus neste mundo pós-moderno, a Igreja se vê frente a alguns desafios.

O primeiro desafio é falar de Jesus a uma sociedade hedonista e sem absolutos. No modo de pensar e viver do homem globalizado e pós-moderno, o vocábulo evangélico tem perdido sua força e é tratado como algo banal. Vivemos numa sociedade hedonista, consumista, relativista e cética, que vive de impressões, de impactos sensoriais ou emocionais, do efêmero. A verdade é uma experiência estética e retórica. Ouvindo falar da verdade, muitos respondem com uma pergunta cínica (a mesma que Pilatos fez a Jesus): “O que é a verdade?”

Ao encarar esta sociedade pós-moderna e globalizada, sem absolutos, nem bases fixas, que se deleita no pluralismo, na divergência e no relativismo, perguntamos: Podemos falar de um movimento evangélico missionário autêntico que prima pelos princípios e estabelece as verdades bíblicas como parâmetro? Ou estamos vivendo “sensações” missionárias, negociando os princípios segundo a conveniência de cada um, usando como desculpa a cultura ou sub-cultura do campo onde atuamos?

Outro desafio missionário é anunciar Jesus Cristo em uma era de religiosidade selvagem. O problema não é saber se as pessoas crerão ou não, mas em quem crerão. Há um triunfal regresso dos deuses pré-colombianos, de mitologias, ocultismo e seitas satânicas. Testemunhamos a proteção dos governos a crenças indígenas. Cada religião adquire uma forma especial e atraente, conquistando adeptos até mesmo fora de seus lugares de origem. Hoje em dia, em alguns segmentos da sociedade, é glamouroso professar alguma filosofia religiosa e até alguma crença indígena. E para agravar a situação, muitos professam a religião evangélica por professar, fugindo da responsabilidade e do compromisso de servir e viver de acordo com os ensinamentos de Cristo e os princípios básicos estabelecidos nas Escrituras.

Um dos desafios neste mundo pós-moderno é o homem e a família. Estamos chegando a cenários futuristas, onde o homem projeta um mundo feliz, com a possibilidade de haver curas para todas as doenças partindo de pesquisas com o genoma humano. O homem age como se fosse “Deus”, usando as conquistas científicas para definir quem tem o direito de nascer e viver. Além disso, a desintegração familiar e suas consequências crescem assustadoramente. A união entre homem e mulher não é mais um compromisso para durar toda a vida. Segundo o poeta, “o amor é eterno enquanto dura”. Cada um configura sua própria orientação sexual e se comporta livremente – seja hetero, homo ou bissexual. A aprovação de leis que autorizam a união de pessoas do mesmo sexo faz parte do cenário da maioria dos países desenvolvidos.

Outro desafio para a ação missionária é a nova sociedade multicultural e pluralista. O mundo ocidental tem passado por grandes mudanças sociológicas. A migração dos povos de um lugar a outro, seja em busca de novas oportunidades financeiras, ou para escapar da miséria e da fome, tem criado novas formas de culturas e subculturas. Estima-se que aproximadamente um bilhão de pessoas vivem fora de seus lugares de origem. Isso tem criado os famosos “guetos modernos e miseráveis”. As pessoas misturam as formas de viver de seu lugar de origem com a forma de viver do seu novo lar. Isso gera traumas e insegurança.

Estamos enfrentando um fenômeno migratório sem precedentes na história da humanidade. Um enorme contingente de pessoas, principalmente do mundo hispânico, tem saído em busca de uma vida melhor, em especial na Espanha e nos Estados Unidos. Isso gera um processo de mudanças culturais de incalculáveis proporções. Diante desse quadro, os cristãos devem perguntar: Estaria o movimento missionário preparado para trabalhar nesses campos, e, além de pregar as boas novas de Jesus, desenvolver projetos para estar ao lado desses novos escravos do século XXI?

Em 1 Coríntios 9.19-23, o apóstolo Paulo mostra como fazer missões num contexto multicultural, e ao mesmo tempo nos exorta a nos identificar com as culturas e subculturas, com o único objetivo de anunciar o evangelho de Cristo, animando-nos a sermos cooperadores com Jesus. O que o homem deste mundo pós-moderno espera é mais que uma “pregação”. Está olhando mais para a prática do que para a teoria. Querem ouvir uma mensagem autêntica, viva e sincera. Encontrarão a fé por meio da autenticidade e crescerão em fé da mesma maneira. Se a mensagem não for sincera e autêntica terá pouco, ou nenhum, efeito.

Os missionários do século XXI têm de ser evangelizadores autênticos; educadores do evangelho em teoria e prática. Devem priorizar o ser, antes do saber e do ter; ser construtores de pontes; semeadores de esperança; aglutinadores; ousados; comunicadores de valores cristãos tanto na vida pessoal quanto na profissional; separar valores de contra-valores e revalorizar a ética por cima da técnica. Devem estar abertos e envolvidos na missão integral; envolverem-se com a comunidade, buscando soluções para as necessidades básicas do ser humano. Precisam fazer com que as pessoas experimentem Deus no descobrimento da verdade; reconhecer a diferença entre saber a verdade e vivê-la; estar interessados em conhecer e ser conformes à imagem de Jesus, e não meros receptores de idéias modernas e até contextualizadas, mas vazias em si mesmas, sem vida. Nada disso terá algum significado se não for experimentado. Quando se experimenta, há uma compreensão do que aquilo de fato significa.

Faremos discípulos quando formos igrejas, em vez de plantar ou fazer igrejas. Essa convicção tem de ser primordial dentro de uma ação missionária que venha a abarcar toda a comunidade. E esse deve ser o sentimento da igreja que tem aspiração missionária.

(Autor: Benides Bergamo - missionário da Missão Evangélica Betânia, no Paraguai, há vinte anos. Revista Mensagem da Cruz, número 144 - www.editorabetania.com.br)

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