9 de julho de 2010

A PRIORIDADE DO EVANGELISMO

Robert E. Coleman

Um grupo de turistas estava sendo conduzido pelas instalações da famosa igreja londrina, Westminster Abbey, quando uma velhinha interrompeu o guia.

“Meu jovem! meu jovem! Será que você poderia parar de falar por um instante para responder a uma pergunta? Diga-me, alguma alma foi salva aqui ultimamente?”

Houve, então, um silêncio total enquanto o grupo, estarrecido e constrangido, ponderou a pergunta. Almas salvas em Westminster Abbey? E por que não? Não é essa a tarefa primordial da Igreja?

Mas, hoje, há tantas exigências e cobranças que é fácil ficar com as prioridades fora de ordem. É por isso que a igreja precisa se lembrar de que é Corpo de Cristo, e como Corpo dele na terra somos chamados para viver no seu Corpo como ele vivia. Logo, o evangelismo se torna o propósito primordial num grupo de crentes bem coordenado, porque foi o propósito primordial do Corpo do Senhor – a única razão por que o eterno Filho se despiu das vestimentas da glória e assumiu a forma de nossa carne.

Devido à nossa insensibilidade em relação a esse fato, chegamos a reproduzir a cegueira da gente religiosa que presenciou o ato do Calvário. Eles zombaram de Cristo por não descer da cruz para se salvar (Mc 15.31). O que aqueles egoístas mundanos não entenderam é que Jesus não veio para se salvar, mas, sim, para nos salvar. Ele “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45). Ele veio para “buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10).

Qualquer igreja que estiver vivendo na plenitude do Espírito Santo reconhecerá essa prioridade de Jesus e se dedicará ativamente a ganhar os perdidos. A experiência da igreja no Pentecostes deixa bem claro esse fato. Reconhecemos que a paixão pelas almas é um dos frutos do avivamento, mas cremos também que esse amor aumenta na medida em que nos envolvemos no trabalho. Uma igreja que não sai ao mundo para anunciar o evangelho de Cristo não reconheceria o avivamento se ele viesse.

O evangelismo, então, pode ser visto como uma espécie de termômetro do Corpo de Cristo. Quando a igreja está enferma, o programa de evangelismo costuma ser o primeiro a sofrer. As tradições e o orgulho fazem com que qualquer outro programa continue, mesmo depois que sua razão de ser é esquecida. Mas é preciso entender que qualquer atividade, que não esteja expressando o amor do Salvador pelos perdidos, está completamente fora de sintonia com o evangelho. É trágica a situação quando a preocupação com fraternidade, melhoramentos comunitários, destaque intelectual, bem-estar social ou qualquer outra causa secundária torna-se a paixão controladora da vida da igreja.

Essa confusão de prioridades é, sem dúvida, um dos problemas que mais causam perplexidade na comunidade cristã. Não é fácil manter as coisas mais importantes nos lugares mais importantes na igreja, mas é mais difícil ainda enfrentar as conseqüências de não fazê-lo. A verdade cruel é que quando o evangelismo é colocado numa posição de pouca importância no programa da igreja, esta começa a morrer. E se algo não acontecer para reverter essa tendência, a igreja deixará de existir. A igreja somente pode continuar na medida em que o povo de Deus, pelo seu Espírito, reproduz a sua vida em cada geração.

Essa reprodução não é produto do acaso. Precisamos mirar o alvo para acertá-lo. A ideia sentimental de que é só viver uma vida boa e o evangelismo cuidará de si, tem uma capacidade enorme de nos tornar passivos. Por outro lado, um constante redemoinho de atividades na igreja não garante que as pessoas estão se convertendo. Podemos encher os templos aos domingos, podemos realizar grandes construções, aumentar grandemente as receitas da igreja, gastar muita energia em muitas coisas boas, mas o evangelismo ainda pode estar faltando. O compromisso de tornar Cristo conhecido e amado precisa permanecer firme em nossa vida. Esse compromisso precisa permear a vida do Corpo de Cristo e a vida de cada membro do Corpo.

John Vasser foi um homem excêntrico, mas bondoso, que aproveitava todas as oportunidades possíveis para falar de Cristo. Um dia, no saguão de um hotel onde aguardava a chegada de um amigo, ele começou a conversar com uma mulher da alta sociedade, falando-lhe das coisas do Senhor. Ela ficou impressionada com a ousadia que o servo do Senhor usou na sua abordagem do evangelho. De repente, chegou o homem que o Sr. Vasser aguardava, e ele teve de ir embora.

Logo em seguida, chegou o marido daquela senhora, e ela relatou:

– Apareceu um senhor idoso me falando de religião.

– Eu teria dito logo para ele ir cuidar dos negócios dele, disse o marido.

– Ah, respondeu ela, se você tivesse ouvido o homem, teria dito que ele estava cuidando dos seus negócios.

Não deveria ser esse o negócio de todos nós? Não estou dizendo que devemos usar a mesma abordagem que John Vasser usou, ou a que qualquer outra pessoa usa. Mas essa compulsão de espalhar o evangelho deve marcar também a nossa vida. Somos a igreja de Cristo e como ele foi enviado pelo Pai a este mundo, assim nos envia a nós.

Quando o amor de Cristo nos constranger e quando buscarmos em primeiro lugar o seu reino, guardaremos as suas prioridades.

Robert E. Coleman é professor emérito de Evangelismo na Trinity Evangelical Divinity School, em Deerfield, e diretor do Instituto de Evangelismo Billy Graham, em Wheaton.

(Revista Mensagem da Cruz, julho a setembro de 2009)

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