2 de maio de 2022

A Missão é uma tarefa de mão dupla


Parece ser um exagero, mas ainda que inconsciente, muitas pessoas e igrejas têm o pensamento de que os missionários precisam mais deles, do que eles dos missionários. A ideia consolidada é de que o campo precisa do apoio da igreja local, mas a igreja local não carece de nenhuma necessidade que o campo possa suprir. Esse pensamento favorece uma noção de superioridade da igreja que envia em comparação com o campo missionário. Além disso, facilita a negativa de muitos em se envolver na missão, porque, segundo essa (falta de) visão, não se envolver com a obra missionária não prejudica em nada a igreja local. Se puder faz, mas se não puder, não tem problema.

Mas tem problema sim! Sem contar com o fato de que a missão é uma ordem de Jesus, logo uma obrigação para a igreja, e que a dedicação missionária é expressão da saúde do evangelho numa igreja local, o envolvimento com a obra missionária, se feito de maneira correta, pode ajudar, e muito, o desenvolvimento da igreja que envia.

A obra missionária está na vanguarda do estudo cultural e na comunicação do evangelho. Para cumprir com sua tarefa, o missionário precisa estudar e muito o povo que deseja alcançar. Isso é o tipo de tarefa que toda igreja precisa fazer. Para alcançar a atual geração é preciso estudá-la, conhecê-la, para identificar os pontos de contato por meio dos quais apresentaremos o evangelho. Se a igreja brasileira quiser abandonar as análises superficiais de sua própria cultura, e realmente entender o pensamento do não cristão, ela precisa olhar um pouco para o que os missionários estão fazendo no aspecto do estudo da cultura e aprender com essas ferramentas.

O testemunho dos crentes alcançados, especialmente em contexto de perseguição, serve de exemplo para renovar nossa espiritualidade. Quando olhamos com atenção para como estão vivendo os crentes ao redor do mundo, suportando a perseguição sem abandonar o evangelho, ou até mesmo caminhando dezenas de quilômetros para participar de um culto, nossa prática é questionada e nossa espiritualidade revigorada. A igreja precisa desse choque de realidade para tirar maior proveito dos recursos que Deus colocou à sua disposição.

O envolvimento da igreja local com projetos missionários é a expressão mais visível de sua obediência missionária. A igreja precisa da missão pelo simples fato de ser essa ação a expressão de sua obediência missionária. Todas as igrejas são chamadas a ser parte da Missão de Deus no mundo e toda igreja local é ao mesmo tempo um lugar de missão. Ela tem um compromisso tanto para os que estão perto como para com os que estão longe. Portanto, a participação da igreja na missão é questão de obediência, e não de preferência.

Só uma correta compreensão do Reino de Deus nos pode livrar de entender a missão como um movimento de mão única, permitindo-nos ver que todos somos parte do plano de Deus, servindo uns aos outros e precisando uns dos outros para completar a tarefa que nos foi dada.

Rev. Amós Cavalcanti, missionário da APMT no Chile.

(Por e-mail)

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