Escritor Pr. Teófilo Karkle
A Obra Missionária deve ser feita com muita Coragem. O Missionário precisa ter coragem para deixar sua terra, sua família, sua cultura, para assumir outra terra, outra cultura em qualquer circunstância que seja e ficar nela o maior tempo possível.
A coragem precisa ser mostrada no início, da chegada, começando mesmo na viagem. Coragem para ir sem saber como é o lugar que Deus colocou no seu coração. Coragem para chegar sozinho, apenas com a sua esposa. Coragem para aprender o novo idioma que irá usar para viver, evangelizar e ser entendido pelo povo.
É muito diferente para um Missionário ao chegar ao campo e ter alguém esperando por ele na recepção, do que aquele que vai simplesmente crendo na convicção que Jesus colocou no seu coração. Sempre este último é o que mais obtém milagres na sua chegada, na sua adaptação e na sua permanência no país aonde Deus enviou.
Aqueles que são recebidos com tapetes vermelhos, bandeira e fanfarra, não são Missionários, mas diplomatas. Jesus mesmo entrou em Jerusalém montado num jumentinho com um pequeno grupo que o viu entrar.
Particularmente eu prefiro ouvir os testemunhos dos Missionários que começam seu trabalho como diz o ditado “com a cara e a coragem” do que aquele que tudo estava preparado na sua chegada, tudo estava pronto para recebê-lo, este, quase não tem milagres da providência de Deus para contar. Isso é muito fácil, chegar numa congregação já existente, com um jantar, com um culto de bem-vindo.
Pois leia agora a nossa jornada quando chegamos ao Chile em 25 de Novembro de 2011. Nós mesmos dávamos bem-vindos a nós mesmos. Deus preparou um tapete vivo de milhões de Girassóis todos inclinados ao sol para o lado direito do ônibus na nossa viagem e nos diziam aquelas flores amarelas: "bem-vindos, Missionários Teófilo e Ivone! Obrigado pela sua Coragem!".
Para a Glória de Deus queremos narrar aqui neste artigo nossa Coragem Missionária, por amor a Jesus, de vir ao Chile de ônibus com 18 malas e 50 horas de viagem.
Existem três empresas que fazem este percurso de 60 horas desde o Rio de Janeiro até Santiago do Chile. Pluma, Chilebus e Crucero del Norte. Nestes ônibus que viajam uma vez por semana, acontece cada história que dá vontade de rir ou de chorar. Às vezes os ônibus se quebram a muitos quilômetros de uma cidade onde possam consertá-los, ou para serem resgatados. É muito difícil que um ônibus desse seja trocado, pois a viagem é longínqua, um verdadeiro cruzeiro em terra, onde a geografia muda várias vezes entre campos que se perdem de vista e pampas.
Você dorme vendo tudo verde e acorda vendo aqueles terrenos de precordilheira dos Andes onde a vegetação é apenas espinhos e por último o ônibus entra na Cordilheira dos Andes propriamente dito coberto de neve, se é inverno, com uma temperatura até 19 graus abaixo do zero.
Chile é a nossa nação adotada com muito carinho, amor e Coragem. Havíamos feito um contato pela internet com uma pastora em Maipu, Chile, onde sua prima tinha uma imobiliária, mas não recebemos nenhuma ajuda na época, de conseguirmos reservar um aluguel, ademais a pastora se mudou para Colômbia alguns dias antes da nossa chegada, isso nos deu a certeza que nós estávamos sozinhos nesta jornada, nesta empreitada, assim se criou um ambiente para milagres.
Fiz contato com um taxista crente o qual nos levaria para sermos hospedados por alguns dias num sítio no pé da Cordilheira dos Andes. O terreno estava bem descuidado, havia apenas uma casinha numa situação de pobreza. Interessante que o terreno estava rodeado de mansões de luxo e nós dentro da casinha de madeira, baixinha, pobrezinha, feinha, eu levantava minha mão e tocava no forro, esticava minhas pernas, elas saíam cama.
A pequena casa construída sobre algumas pedras, e por causa dos constantes tremores de terra no Chile a casa estava próxima a cair, até coloquei algumas pedras para servir de calço, glorificamos a Deus, pois na nossa estadia que durou 110 dias neste lugar, não deu nenhum tremor forte.
O irmão taxista conseguiu um pequeno caminhão que vendia gás, para levar nossas 18 malas. Paguei pelo frete 120 Reais, todo o dinheiro que tinha em moeda chilena, pesos, trocados na fronteira. Colocamos todas as malas num pequeno quarto com uma cama de casal, tudo muito espremido.
O terreno era grande, tinha um hectare, mas a casa era pequena. Banheiro sem chuveiro, porta sem fechadura, até fiz uma tramela para a porta do banheiro, consertei um vazamento no bacio. Tomávamos banho de água fria, e 72 dias depois numa viagem para pregar no Sul do Chile é que tomamos nosso primeiro banho de água quente, aquecido por uma serpentina, ficamos muito felizes com nosso primeiro banho quentinho chileno.
Minha esposa usava um borrifador para umedecer o ar, pois fazia um calor abrasador, que tudo de verde estava seco, havia árvores mortas que servia apenas para pouso de pombinhas do mato. Quis pegar algumas delas na arapuca, lembrando-me da minha infância em Urubici, SC, mas nunca consegui nenhuma (rsrsrsrsrs)!
A umidade relativa do ar no verão chileno chega apenas a 22%, isso é clima do deserto da Palestina. Ela borrifava água em frente de um ventilador velho que estava amarrado com uma cordinha de varal, já não tinha o pé. O ventilador não dava conta de refrescar aquele quarto ensolarado. Como havia muitas madeiras usadas de construção amontoadas perto da casa, fizemos por fora da casa uma cortina de madeira para amenizar o forte sol que batia nas paredes do quarto.
Fizemos muitas coisas nesta casa para deixar mais habitável, limpamos toda ela, pois a sujeira era demais da conta, organizamos seus paupérrimos móveis e tinha muitas coisas velhas penduradas pela parede, tudo que você possa imaginar tinha pendurado naquela casita. Não havia um prato igual ao outro, não havia uma cadeira igual à outra, não havia uma panela com tampa, mas mesmo assim íamos glorificando ao Senhor por ter providenciado esse lugar simples.
À noite saímos para visitar pequenas igrejas também sumidas na miséria, vimos muita coisa triste nesse lugar, dentre essas coisas uma menina por nome Roxana, muito carente de afeto, queria que minha esposa a adotasse, ao ponto de chamar minha esposa de mamãe, quando a via abraçava e a beijava muito, histórias muito triste mesmo. O que também nos deixou impressionado foram essas pessoas falarem nessas igrejas dizendo que nunca tinham visto um missionário por ali. Então nós nos perguntávamos onde é que os missionários enviados das grandes igrejas do Brasil vinham fazer Missão aqui no Chile?
Deste lugar nós nos mudamos com a mesma Coragem Missionarialesca para outro município o mais pobre da região metropolitana de Santiago, onde conseguimos alugar por 645 Reais, uma casinha de interior, e olha que foi uma grande dificuldade encontrar um lugar, devido ao terremoto de 27 de fevereiro de 2010, onde caíram muitas casas, sendo assim foi difícil encontrar uma casa barata para alugar aqui, mais graças a Deus acabamos encontrando essa que tinha duas janelas de madeira, que quando coloquei a mão na janela ela caiu de podre (risos).
Era uma casa mal cuidada, com suas paredes manchadas de tintas de várias cores. Nas paredes da cozinha havia 160 furos de broca, cheios de parafusos para pendurar coisas, louças, ou sabe lá o que pendurou o inquilino anterior. A primeira missão nesta casa foi pintá-la de branco, para ficar apenas uma cor, trocar as duas janelas que a dona da casa nos comprou, matar as aranhas, desinfetar o banheiro, matar um ratinho que queria sair pelo ralo da lavadora, que minha esposa fechou com um pedaço de polietileno, o ratinho vinha de meia em meia hora raspando com a unha para sair, era muito estranho aquilo e dava para ver as unhas dele arranhando, rsrsrsrsrs.
A duas quadras da nossa casa havia uma favela, onde estava a Igreja, onde fomos trabalhar. O pastor desta igreja nos pediu ajuda. Tinham nesta igreja 40 pessoas contando até os bebês de colo, mas ali fizemos muitos cultos para 9 a 12 pessoas. Essa favela estava cheia de pessoas traficando e consumindo drogas a plena luz do sol, era uma verdadeira cracolândia. Graças a Deus que nunca sofremos nenhum assalto, pelo contrário os bêbados e drogados diziam a mim: “Ele é filho do Rei”.
Como lidar com esse tipo de gente, onde eles não queriam uma Palavra, mas sim uma moeda ou um prato de comida? Outro drogado me disse: “Pastor, estamos ouvindo a sua pregação”... "O senhor fala bem pastor, tô ligado na palavra tua". O som que saía da pequena congregação era forte e como o templo tinha apenas 40 m² de madeira, o som saia para todos os 18 a 20 drogados que ficavam exatamente no beco onde estava a igreja. Oito meses de Missão neste lugar, graças a Deus deixamos bons resultados, para a glória do Senhor.
Muitas vezes minha esposa depois de preparar uma comida brasileira bem colorida, dizia: “Amor, aqui dentro sem olhar para a rua tenho a sensação que estamos num bairro nobre da cidade, rsrsrsrsrs... mas ao sair na rua nos deparávamos com a miséria, a sujeira, e a depravação”.
A sujeira era produzida por centenas de cachorros vagos, que vivem nas ruas, cachorros gordos, mas vira-latas. Para economizar energia no calor chileno os cachorros ficam boa parte do dia deitados, são cachorros na maioria obesos, alimentados pelo público que com pena compram ração e colocam onde eles estão deitados. Tínhamos que caminhar olhando para o chão para não pisar nas sujeiras deles, pois o caminho parecia mais um campo minado. Só por amor a Jesus é que nós andávamos por ali.
Coragem Missionária é você fazer de um lugar feio assim como este, o seu bairro, de um lugar pobre assim o seu lugar de atuação, de um lugar perigoso assim, fazer seu refúgio, de um lugar sujo assim, fazer o seu ninho aconchegante. Era como viver numa África branca, pelo calor, pela classe de vida tão paupérrima e pessoas tão carentes de Deus, mas tão indiferentes a Ele.
Missionário que não tem Coragem, não enfrenta 60 horas dentro de um ônibus, não vive 110 dias dentro de um quarto, não suporta 22% de umidade relativa do ar, para trabalhar dentro de uma favela por amor a Jesus, por amor a sua obra.
Concluímos pedindo vossas orações como fez o apóstolo Paulo, para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele livremente, como me convém falar. (Efésios 6.19-20)
Você, se sentir tocado e queira nos ajudar nesta Missão não deixe de nos escrever, centrodealegria@hotmail.com. Peça-nos o numero da nossa conta para o envio de suas Doações.
Banco do Brasil
Agencia 3078-3
Conta Corrente 18.491-8
em meu nome Teófilo Venicio Karkle.
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