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Corria o mês de março de 1968. Do porto de Manaus, singrando as águas do rio Negro, afluente do Amazonas, saía uma embarcação a motor, rebocando um pequeno barco de madeira, sem nenhuma cobertura, levando Francisco da Silva Miranda, a esposa e três filhos, todos menores.
Cheio de fé e esperança na proteção de Jesus, Francisco saía da capital do Amazonas em direção a um mundo insondável de águas e florestas virgens, levando no bolso apenas 20 centavos e todos os bens disponíveis: um pequeno bote de madeira sem cobertura, um pequeno motor de moer mandioca, que ele pensava poder adaptar ao barco, algumas redes usadas, pratos de ágata e colheres, um terçado (facão usado na região para cortar mato), uma velha Bíblia, sua maior riqueza, e uma vontade indômita de anunciar o Evangelho em regiões mais distantes.
O campo de Pauinin, na boca do Acre, quase extremo norte do Amazonas, era o destino do obreiro. Francisco tinha uma idéia real da jornada, das distâncias e dos perigos que lhe esperavam. Ele agia pela fé no seu Mestre e Senhor, com desejo de servi-Lo por amor.
Saindo de Manaus, o barquinho que levava a família de Francisco foi puxado durante 12 dias até chegar a Tapauá, em pleno rio Purus. Aí começava a faltar alimento, não havia combustível, nem dinheiro. Dali em diante, Francisco teria de ir só. Precisava de dinheiro. Lançou mão do remo e penetrou no rio do Sol, pequeno rio do Amazonas, e após 15 dias parou junto a uma palafita abandonada. Refez a cabana com ajuda da esposa e ali se abrigou. A família passou a se alimentar da caça. Francisco planejava conseguir sova (espécie de borracha) na região para então vender no Regatão (espécie de barca que percorre o Amazonas vendendo e comprando de tudo) e, com o dinheiro, prosseguir viagem.
Certa noite, Josué, o filho menor, começou a inquietar-se passando mal. Não havia remédios, nem para quem apelar; estavam em plena selva e longe da civilização. Francisco lembrou-se dos parentes, da Igreja, dos irmãos na fé, e, enquanto seu espírito voava distante, de seus olhos rolavam duas grossas lágrimas. Contemplou o céu e orou: "Senhor, tem cuidado de nós". No terceiro dia, Josué começou a ficar quieto e no quarto dia faleceu.
A morte de Josué abalou profundamente o obreiro do Senhor, o qual não imaginava aquela situação. A surpresa foi muito dolorosa. Na pequena sala da palafita, assentados no chão, sua esposa e suas duas filhas choravam, e no centro da sala uma rede, onde Josué permanecia morto. Para construir um caixão para o sepultamento do menino, arrancou as duas tábuas superiores do barco, desentortou os pregos e com o terçado fez um tosco caixão. Josué foi sepultado na terra úmida da floresta amazônica, que mais úmida ficou com as lágrimas dos discípulos de Jesus.
No rio do Sol, novamente se viu um pequeno barco a remo coberto de palha, que se afastava vagarosamente. Era o obreiro de Jesus, no cumprimento da missão: Ide! E, ao longe, junto a uma cabana de palha, uma pequena elevação de terra fresca, sem relva, a sepultura de Josué. Ao sair disse: "Nosso filho vai ficar aqui".
Finalmente chegou a Tapauá, onde havia um lugarejo. Era um lugar de má fama, onde nenhum obreiro pregava o Evangelho. Porém Francisco decidira no seu coração que iria deixar a mensagem da Bíblia ali. Falou com o delegado do local e certa noite tinha um bom auditório. Falou de Jesus e do seu amor e, ao fazer o apelo para decisão, o delegado foi o primeiro a se apresentar. Aquela noite foi de grande conforto para Francisco, pois o Senhor agora começava a lhe dar outros filhos.
Em Tapauá, Franciso adaptou o motor de moer mandioca que levava no barco, vendeu a sova que tirou da mata no rio do sol, conseguiu algum dinheiro, comprou mantimentos, gasolina e seguiu viagem novamente. Apesar da tristeza pela morte do filho, era preciso continuar a entregar a mensagem.
Em Lébrea, ficou sem combustível e sem mantimentos. Trabalhou como ajudante de pedreiro e conseguiu ser rebocado durante 12 dias em pleno rio Purus, período em que foi alimentado por ordem do comandante do barco que o rebocara, o qual até a luz colocara no seu pequeno barco. Ao chegar à entrada do rio Pauinim, o comandante lhe deu três latas de gasolina e uma de óleo, além de mantimentos.
Agora começava a etapa mais difícil. O Pauinim a certa altura não permitia navegação e Francisco teve de carregar o bote por longos trechos, até chegar onde a navegação podia ser reiniciada. Deste modo navegou 60 dias, até chegar a Reforma. Era o fim da jornada, completando 228 dias de viagem, vencendo rios, florestas, fome, lágrimas e morte, tudo por amor de Jesus.
No campo de Pauinim existiam 15 crentes em Jesus. Francisco os reuniu e começou a trabalhar; visitou a todos, fez reuniões, incentivando-os a evangelizar, e começou a penetrar cada vez mais longe nos seringais e na selva, até que chegou aonde a floresta densa fechava e não permitia mais a passagem do bote. Após um ano, de oito meses de evangelização, Jesus havia salvo 223 almas. Parte da missão estava cumprida.
É nesta região insondável, que os obreiros da Assembléia de Deus têm, com a ajuda do Espírito Santo, edificado mais de 100 congregações evangélicas e têm se oferecido em sacrifício vivo e atual, para cumprirem a ordem de Jesus de ir fazer discípulos.
(Revista A Bíblia no Brasil, número 131 - 1984).
"seu"Francisco,ou seja,o irmão Francisco e muitos outros,á exemplo dos apostolos servem de modelo,para a igreja de hoje....
ResponderExcluirAbnaias Duraes
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