18 de junho de 2010

BRASIL - O GIGANTE ADORMECIDO

‘’...Deitado eternamente em berço esplêndido...’’ – frase do hino nacional brasileiro

Pensamento - “Hoje em dia muitas pessoas dizem amar Jesus e o seu reino celestial, mas poucos carregam sua cruz. Muitos anseiam pelo conforto que ele traz, mas poucos estão dispostos a enfrentar as provações que seu nome pode trazer. Jesus encontra muitas pessoas que desejam partilhar do seu banquete, mas poucas dispostas a jejuar com ele. Todos querem desfrutar da alegria que ele traz, mas poucos estão dispostos a enfrentar algum sofrimento por causa dele. Muitas pessoas seguem Jesus até o momento de partir o pão, mas poucos chegam a tomar de seu cálice do sofrimento. Muitos admiram os seus milagres, mas poucos seguem-no na indignidade de sua cruz”.

Tomas Kempis

Introdução

Em dezembro de 2004, vários líderes de organizações missionárias latinas reuniram-se na Costa Rica. O encontro foi promovido pela Wycliffe, missão especializada no trabalho de tradução da Bíblia. Naquela ocasião pude participar do Fórum de Colaboração para o Impacto das Escrituras. Foi quando percebi a necessidade de escrever uma reflexão, a partir de uma perspectiva latina, que mostrasse a todos os presentes porque o Brasil, que tem um grande potencial missionário, ainda não “decolou”. Minha conclusão é que esse potencial jamais será totalmente alcançado sem que exista uma parceria mais efetiva com a Igreja do hemisfério Norte. Afinal, precisamos enfrentar muitos obstáculos naturais, considerar o tamanho dos desafios e também nossa realidade espiritual.

O especialista em missões Peter Wagner declarou, no começo da década de 1990, que o Brasil seria a maior força missionária mundial em 2010 e que 2025 seria a vez da China. Isto ainda não ocorreu e realmente creio que não existem sinais evidentes de que tal previsão se cumpra. Em parte, o problema é a falta de parcerias eficazes entre a Igreja do hemisfério Norte e a Igreja brasileira. Mesmo assim, segundo Patrick Johnstone, o Brasil é a terceira nação que mais envia missionários neste momento.

Pensando sobre a situação da China, a previsão de Peter poderá se concretizar, pois a China já vem explorando seu potencial missionário hoje de forma mais ampla e eficaz que o Brasil. Basta lembrar que somente o Movimento Back to Jerusalem pretende levantar 100.000 missionários chineses. O plano é que eles saiam da China percorrendo o trajeto conhecido como “rota da seda”, hoje também chamado de “Janela 35-45”, até chegar a Jerusalém. Muitas reuniões estão sendo feitas sobre o assunto e o Irmão Yan, um pastor chinês que esteve preso durante mais de 20 anos por pregar o evangelho, está sendo tremendamente usado por Deus para divulgar a visão. O movimento conta com o apoio do escritor Paul Hattaway, que colocou o assunto, de forma jornalística, em evidência nas várias reuniões de parcerias realizadas no mundo para tratar do assunto. Esse tipo de proposta de união no trabalho missionário é algo vital para ajudar no treinamento, na logística e na estratégia daqueles que serão convocados para essa empreitada tão importante e perigosa.

Parece que há mais interesse e generosidade da Igreja do hemisfério Norte em relação à Igreja chinesa. Creio que o principal motivo seja o sofrimento que os irmãos chineses enfrentaram por causa da perseguição; algo que, de certa forma, serviu para purificá-la. Além disso, a comunidade chinesa cristã espalhada pelo mundo é rica e pode, certamente, investir no financiamento deste contingente tão corajoso que ainda está passando por um duro treinamento. A perseguição fez deles militantes persistentes da causa de Cristo e, acima de tudo, muito bem-sucedidos na evangelização. Prova disso é a estimativa de que ocorram 27.000 mil conversões na China a cada dia. É importante destacar ainda que, segundo o pesquisador Patrick Johnstone, a maioria desses evangelistas são mulheres, muitas delas ainda adolescentes.

Ao longo dos anos vários escritores fizeram análises sobre a Igreja brasileira partindo da perspectiva do hemisfério do Norte. Alguns deles trabalham no Brasil ou são obreiros nacionais educados dentro de uma filosofia de trabalho típica da Igreja do Norte. Entendo a importância desses escritos, mas sinto que é preciso fazer uma nova leitura do que está acontecendo sob uma perspectiva mais latina.

Mudanças no mundo

Nos últimos anos, quase da noite para o dia, a América do Sul viu o mundo passar por uma mudança histórica na produção de alimentos, que está transformando o interior quase inexplorado do continente no “novo celeiro” do mundo. Isso não era algo previsto e muito menos aceitável, pois no passado se enfatizava que o bom da exportação era o material processado e não a matéria-prima em si.

Um dos últimos locais do planeta onde ainda existem grandes áreas disponíveis para agricultura, a América Latina (sobretudo o Brasil) tem visto uma verdadeira explosão na exportação de produtos agrícolas na última década. Tal crescimento é alimentado por uma combinação de políticas econômicas pró-mercado e avanços na agronomia. Assim, terras tropicais inutilizáveis foram transformadas em terras produtivas, aumentando os níveis de produtividade a ponto de ultrapassar os Estados Unidos e Europa, o que acabou desafiando o domínio tradicional deles no mercado global de produtos agrícolas.

Assim como o profeta Jeremias, não posso me calar diante de tantas razões que atestam a possibilidade de vermos este gigante chamado Brasil “decolar”.

Os missiólogos concordam que o século XXI está testemunhando um grande deslocamento no “centro de gravidade” do mundo cristão, indo do norte e oeste em direção ao sul e leste. A realidade incontestável é que em 1960 o hemisfério Norte possuía 75% da membresia da igreja do mundo e o Sul, somente 25%. No ano 2000, esse quadro já estava invertido, pois estima-se que 75% dos cristãos vivem na porção sul do planeta e 25%, no Norte. Os números relativos ao envio de missionários também mudaram nas últimas quatro décadas, mas não na mesma proporção.

Anteriormente, quando se falava de um missionário a idéia mais comum era de um americano ou europeu de pele branca. Este quadro hoje mudou e percebe-se que a área de treinamento melhorou sensivelmente no hemisfério Sul. Em grande parte, isso aconteceu como conseqüência do investimento da Igreja do Norte nesta área, bem como da adaptação do treinamento ao contexto latino em muitas escolas.

Para os escritores e estudiosos do hemisfério Norte essa idéia parece algo totalmente novo. Até mesmo os latinos podem duvidar da viabilidade desse tipo de parceira, mas é preciso que a Igreja absorva novas idéias e quebre paradigmas. A verdade é que ainda existe muito a ser feito e o mundo não é mais o mesmo. É preciso identificar o sinal dos tempos e seguir em frente sem estar preso a tradições humanas. O mover de Deus nesse novo tempo é inegável. Politicamente, o Brasil busca estar no centro dessas mudanças, pleiteando uma posição de liderança. Será este um sinal profético para a Igreja Brasileira?

A realidade do Brasil em Missões Transculturais na atualidade

O Brasil foi chamado de “cadinho de nações” por causa de seus muitos casamentos inter-raciais. Aqui existe liberdade religiosa e temos aproximadamente 3.000 missionários transculturais. Pode parecer muito, mas considerando a existência de aproximadamente 35 milhões de cristãos evangélicos, espalhados por 180.000 igrejas, é um número quase irrelevante. Basta lembrar que menos de 300 dessas igrejas têm um missionário trabalhando na região da Janela 10-40 e Além, onde vivem 95% dos povos menos alcançados da Terra e menos de 300 mantêm missionários trabalhando entre os povos indígenas do Brasil.

Calcula-se que a cada dia ocorrem em média 6.500 conversões no país, num total de mais de 2 milhões por ano. Contudo, a negligência da Igreja Brasileira pode ser vista em próprio solo nacional, pois ainda existem mais de 92 tribos indígenas sem a presença de missionários.

O potencial não explorado

A conclusão lógica é que existe um potencial muito grande ainda inexplorado. Existem pouquíssimas igrejas fazendo muito por missões transculturais, mas a maioria não tem feito nada (ou quase nada) para a evangelização mundial. As pessoas só podem se dispor a fazer algo em prol de missões quando são informadas e desafiadas. Quando isso acontece, surgem milhares de candidatos, inclusive com nível universitário, interessados em ser treinados para levar o evangelho aos não alcançados.

Todos esses fatores devem ser levados em conta ao refletirmos sobre o potencial missionário inexplorado da Igreja brasileira, assim como o perfil da nossa cultura, que influencia o modo de ser e pensar de cada crente brasileiro.

As razões porque o Brasil ainda não “decolou”:

Cultura individualista - Existe um adágio brasileiro bastante conhecido que diz: “Cada um por si e Deus por todos”. Este ditado popular revela uma realidade da situação do país, mostrando que cada um quer fazer suas próprias coisas e tem uma grande dificuldade para realizar um trabalho em equipe.

Isso pode ser fonte de problemas, pois infelizmente há pouca unidade no movimento missionário brasileiro e muito se deve a essa cultura individualista. As organizações missionárias poderiam unir os esforços e fazer muitas atividades juntas. Um bom exemplo é que por mais de dois anos fala-se em produzir uma revista que una todas as agências missionárias do país. O custo seria menor e conseguiríamos uma expressão maior para as necessidades missionárias. As missões que já possuem algum tipo de publicação não conseguem aumentar a tiragem, e acabam produzindo uma tiragem pequena que aumenta os custos. O resultado é que a falta de unidade acaba sendo um grande impedimento para a popularização do material de missões, pois as organizações missionárias e igrejas não trabalham juntas para um objetivo comum.

As diferenças denominacionais - principalmente as diferenças existentes entre a forma de trabalhar dos chamados “pentecostais”, “renovados” e “tradicionais”, comprometem o trabalho missionário brasileiro. Se de um lado os membros de igrejas pentecostais valorizam pouco a necessidade de treinamento transcultural e o trabalho de longo prazo, como a tradução da Bíblia para povos não alcançados, por outro lado, os chamados “tradicionais” dão pouca importância a questões como oração e batalha espiritual. Seria maravilhoso se ambos unissem as forças e fizessem um trabalho conjunto para alcançar todas as tribos brasileiras e as regiões do mundo que ainda não têm testemunho efetivo do evangelho.

Um comentário:

  1. "Seria maravilhoso se ambos unissem as forças e fizessem um trabalho conjunto para alcançar todas as tribos brasileiras e as regiões do mundo que ainda não têm testemunho efetivo do evangelho."
    seria maravilhoso, seria o ideal, seria o mais correto infelizmente não acontece, o q vemos é mais uma espécie de "mercado espiritual" onde cada igreja concorre com a outra para saber qual tem mais membros.
    Não se preocupando com o tipo de membros q produzem.
    =/
    bjo ;*

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